quarta-feira, 29 de abril de 2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
GENEROSIDADE
A ovelha generosa
Era uma ovelha muito generosa. Sabem o que é ser generoso? É gostar de dar, dar por prazer.
Era uma ovelha muito generosa. Sabem o que é ser generoso? É gostar de dar, dar por prazer.
Pois esta ovelha era mesmo muito generosa. Dava lã.
Dava lã, quando lhe pediam.
Vinha uma velhinha e pedia-lhe um xailinho de lã para o Inverno. A ovelha dava.
Vinha uma menina e pedia-lhe um carapuço de lã para ir para à escola. A ovelha dava.
Vinha um rapaz e pedia-lhe um cachecol de lã para ir à bola. A ovelha dava.
Vinha uma senhora e pedia-lhe umas meias de lã para trazer por casa. A ovelha dava.
— Ó ovelha, não achas demais? Xailes, carapuços, cachecóis, meias... É só dar, dar...
— Não se ralem — respondia a ovelha. — Vocês não aprenderam na escola que a vaca dá leite e a ovelha dá lã? É o que eu estou a fazer.
Apareceu a Dona Carlota, muito afadigada:
— Eu só queria um novelozinho para fazer um saco para a botija. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha, a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Firmina, muito preocupada:
— Eu só queria um novelozinho para uma pega para a cozinha. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Alda, muito atarantada:
— Eu só queria um novelozinho para acabar uma manta. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha, a dar nunca se cansava.
E eram coletes, camisolas, golas, golinhas, luvas... que a gente até estranhava que a lã se lhe não acabasse. A ovelha sorria e tranquilizava:
— Não acaba. Nunca acaba. Conhecem aquele ditado: “Quem dá por bem, muito lhe cresce também”? Pois é o que eu faço.
E a ovelha generosa lá foi atender uma avó, que precisava de um novelo para um casaquinho de bebé, o seu primeiro neto que estava para nascer...
António Torrado
www.historiadodia.pt
Dava lã, quando lhe pediam.
Vinha uma velhinha e pedia-lhe um xailinho de lã para o Inverno. A ovelha dava.
Vinha uma menina e pedia-lhe um carapuço de lã para ir para à escola. A ovelha dava.
Vinha um rapaz e pedia-lhe um cachecol de lã para ir à bola. A ovelha dava.
Vinha uma senhora e pedia-lhe umas meias de lã para trazer por casa. A ovelha dava.
— Ó ovelha, não achas demais? Xailes, carapuços, cachecóis, meias... É só dar, dar...
— Não se ralem — respondia a ovelha. — Vocês não aprenderam na escola que a vaca dá leite e a ovelha dá lã? É o que eu estou a fazer.
Apareceu a Dona Carlota, muito afadigada:
— Eu só queria um novelozinho para fazer um saco para a botija. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha, a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Firmina, muito preocupada:
— Eu só queria um novelozinho para uma pega para a cozinha. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Alda, muito atarantada:
— Eu só queria um novelozinho para acabar uma manta. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha, a dar nunca se cansava.
E eram coletes, camisolas, golas, golinhas, luvas... que a gente até estranhava que a lã se lhe não acabasse. A ovelha sorria e tranquilizava:
— Não acaba. Nunca acaba. Conhecem aquele ditado: “Quem dá por bem, muito lhe cresce também”? Pois é o que eu faço.
E a ovelha generosa lá foi atender uma avó, que precisava de um novelo para um casaquinho de bebé, o seu primeiro neto que estava para nascer...
António Torrado
www.historiadodia.pt
quarta-feira, 15 de abril de 2009
RUÍNAS
Se é sempre Outono o rir das Primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
E deixa sobre as ruínas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!
Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais alto do que as águias pelo ar!
(.../...)
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!
E deixa sobre as ruínas crescer heras,
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras!
Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais alto do que as águias pelo ar!
(.../...)
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
terça-feira, 14 de abril de 2009
Porquês??
Bem minha cara amiga,
não querendo eu fazer comentários aos doces da Páscoa (até porque não gosto de chocolates...sim, é verdade, existem pessoas que não gostam deles..), devo dizer, a propósito dos "porquês", que eles não passam tão depressa.
Na realidade eles vão-se complexificando e, um dia destes, vais dar por ti a tentar responder sobre o que é o ADN, ou sobre o facto do Universo ser infinito. Esta é particularmente interessante... tentar que uma criança seja capaz de conceber a ideia de infinito :-)
Tu prepara-te!
não querendo eu fazer comentários aos doces da Páscoa (até porque não gosto de chocolates...sim, é verdade, existem pessoas que não gostam deles..), devo dizer, a propósito dos "porquês", que eles não passam tão depressa.
Na realidade eles vão-se complexificando e, um dia destes, vais dar por ti a tentar responder sobre o que é o ADN, ou sobre o facto do Universo ser infinito. Esta é particularmente interessante... tentar que uma criança seja capaz de conceber a ideia de infinito :-)
Tu prepara-te!
segunda-feira, 13 de abril de 2009
A Páscoa...
Óptima desculpa... para comer chocolates...
(como se eu precisasse...)
Óptima desculpa... para colocar o trabalho de lado...
(sim, bem preciso...)
E eu... para cumprir a tradição... fiz tudo isto...
Descansei... passeei... e comi guloseimas...
Falando sério...
Gosto da Páscoa, como gosto do Natal, como gosto de todos os momentos (mais ou menos oficiais) para estar em família...
Esta Páscoa encontrou o J. em plena fase dos porquês (dura, dura... começo a achar que a fase se foi e o que tenho em casa é um perguntador definido)
"Porque Jesus morreu ?"
"Porque ele era muito bom e os homens maus não gostavam dele..."
"E porque não gostavam dele ?"
"Porque ele ensinava coisas boas e os maus não gostam de quem ensina a fazer boas acções"
"Porque os bons gostam de palavras boas e os maus gostam de palavras más ?"
".... pois..."
"E como os homens maus mataram Jesus ?"
"Pregaram-no numa cruz... com pregos nas mãos e nos pés..."
"E porquê ??"
"Para ele não fugir..."
"E ele morreu ?"
"Sim, foi para o céu... transformou-se numa estrelinha... e zela para que todos os meninos se portem bem"
"e eu porto-me bem ?"
"Hummmm... ás vezes fazes umas birrinhas..."
"Jesus está feliz comigo ?"
Enfim...
Jesus aos 4 anos...
(como se eu precisasse...)
Óptima desculpa... para colocar o trabalho de lado...
(sim, bem preciso...)
E eu... para cumprir a tradição... fiz tudo isto...
Descansei... passeei... e comi guloseimas...
Falando sério...
Gosto da Páscoa, como gosto do Natal, como gosto de todos os momentos (mais ou menos oficiais) para estar em família...
Esta Páscoa encontrou o J. em plena fase dos porquês (dura, dura... começo a achar que a fase se foi e o que tenho em casa é um perguntador definido)
"Porque Jesus morreu ?"
"Porque ele era muito bom e os homens maus não gostavam dele..."
"E porque não gostavam dele ?"
"Porque ele ensinava coisas boas e os maus não gostam de quem ensina a fazer boas acções"
"Porque os bons gostam de palavras boas e os maus gostam de palavras más ?"
".... pois..."
"E como os homens maus mataram Jesus ?"
"Pregaram-no numa cruz... com pregos nas mãos e nos pés..."
"E porquê ??"
"Para ele não fugir..."
"E ele morreu ?"
"Sim, foi para o céu... transformou-se numa estrelinha... e zela para que todos os meninos se portem bem"
"e eu porto-me bem ?"
"Hummmm... ás vezes fazes umas birrinhas..."
"Jesus está feliz comigo ?"
Enfim...
Jesus aos 4 anos...
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Não fora o mar...
Não Fora o Mar!
Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.
Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.
Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.
Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.
Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.
Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.
Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.
Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,
Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.
Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"
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